OS SERTÕES
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” Assim termina uma das maiores tragédias de nossa história, comparável apenas aos também horrendos episódios de dizimação de índios, escravidão de negros e às ações militares na Guerra do Paraguai e no Golpe de 64. É da literatura criar obras belas e terríveis. Os sertões é uma delas. Seu autor, Euclides da Cunha, escreveu-a como resultado de seu papel de correspondente especial do jornal O Estado de S. Paulo. Dividido em três atos, como numa tragédia clássica ele apresenta o ambiente (A Terra), os personagens (O Homem) e depois desenvolve a trama (A Luta). Ali está traçado um painel minucioso do sertão, que consegue, ao final, transcender mesmo os preconceitos positivistas do escritor. O texto, com pouco mais de 100 anos, permanece atual. Não só na descrição da barbárie imposta a miseráveis apenas pela manutenção de poder político. Há ali todo tipo de matéria para estudo. Inclusive, sugestões para solução do drama da seca, prevendo a transposição de águas de rios da região (como o São Francisco) ou da Bacia Amazônica. Não se pode passar pela vida sem ler Os sertões na íntegra. Ao menos não se quisermos saber dos processos pelos quais, em nome da civilização, o homem se desumaniza.
CUNHA, Euclides da. Os sertões (campanha de Canudos). Rio de Janeiro: Ediouro.
Fonte: http://www.senado.gov.br/sf/senado/ilb/asp/PR_Consulte__LivroDoMes_GaleriaDeResenhas.asp
Acessado em 15/04/2009.